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quarta-feira, 13 de março de 2013

Retrato de um ato cívico de repúdio...


Retrato de um ato cívico de repúdio...

E lá estava eu novamente, chegando com disposição, afinal uma figura nefasta, preconceituosa e racista à frente de uma comissão de direitos humanos e minorias é no mínimo surreal. Passos firmes como nos tempos de juventude, a experiência, contudo me fez ter um pé atrás quando vi a pequena aglomeração no local combinado, não mais que 200 pessoas. Perda de tempo pensei, os atos cívicos perderam a força, viramos ativistas de poltrona. E como já estava lá, mesmo minha verve cidadã passando por alguns períodos de dormência não baixa a guarda, resolvi me juntar; já éramos a essa altura umas 500 pessoas, o Laerte(1) parou ao meu lado, trocamos algumas palavras e fomos interrompidos por uma repórter da rádio Itatiaia. O parco grupo resolveu passar ao asfalto do cruzamento da Paulista(2) com a Consolação(3), Laerte convocado pelos manifestantes a ir à frente, começamos a cantar e gritar palavras de ordem. Já tomávamos o começo da Consolação, em frente ao finado Cine Belas Artes(4), pessoas começavam a descer dos ônibus encorpando rapidamente o grupo, enquanto avançávamos descendo a consolação o final da passeata continuava na Paulista, tal era o numero de pessoas que ia se agregando. Retornamos em frente ao Sujinho(5) pelo sentido contrário retornando à Paulista, já tomávamos os dois lados da Consolação, a essa altura já passávamos de 2000 pessoas, homens, mulheres, homos e heteros, famosos, anônimos, negros, brancos, enfim... gente.  Voltamos a descer a Consolação em direção à Praça Roosevelt(6), dava cada vez mais orgulho olhar para trás e ver bandeiras, cartazes e a rua tomada por gente, muita gente, paramos em frente a um cortiço, um rapaz e duas crianças remelentas sentadas à porta, sem entender bem, mas incentivando e sorrindo, e do alto de uma das janelas, a cena mais significativa do dia; ao entoarmos o hino nacional, uma senhora negra de uns 80 anos aproximadamente sai de uma das janelas do cortiço e cantando rege o nosso coro, feliz e sorridente foi aplaudida. Por rádio entre vários pontos da passeata já se estimava em torno de 15mil participantes. Seguimos com mais vigor e mais animados ao não ver mais asfalto, mas simplesmente gente, pessoalmente acredito que éramos menos, ninguém saberá ao certo e no fundo não importa!  Na Praça Roosevelt vários oradores representando entidades ou simplesmente suas próprias idéias e convicções. Os líderes do agito, no geral bem mais jovens que eu, como seria normal não resistiram ao um megafone na mão e precisaram dos seus 5 minutos de fama, faz parte do movimento, faz parte da idade, já vi isso ocorrer outras vezes, o que não invalida de forma alguma o movimento. O momento “púlpito” foi vencido pelo clamor popular de voltar à rua. Naquele momento se juntavam a nós os manifestantes anti-Renan Calheiros, seguimos pela Rua Augusta(7) sem sentir a subida, realmente sentindo o apoio público, fomos aplaudidos várias vezes... flagrei por um momento até um dos policiais que faziam o cordão de isolamento gritando palavras de ordem timidamente conosco, chegávamos à Av. Paulista, mesmo interrompendo o trânsito das duas pistas por um bom tempo o apoio era incontestável, buzinas, aplausos, sorrisos, alguns saíam de seus carros para dar apoio, em frente ao MASP(8) ocupamos as duas pistas e o vão livre, agradecimentos depoimentos comoventes e o melhor de todos os cartazes em minha opinião no meio da multidão “Odeio passeatas, estou aqui por dever cívico!”, finalizamos cantando mais uma vez o hino nacional e aplaudindo a nós mesmos, merecidamente, afinal mesmo com atos relativamente pequenos o civismo e a manifestação popular estão vivos. Fora Marcos Feliciano(9)!!!!

(1) Cartunista, que nos últimos tempos adquiriu notoriedade além do seu trabalho também por se vestir de mulher (crossdresser)
(2) Avenida Paulista, maior centro financeiro do país, onde também estão escritórios de várias multinacionais e alguns consulados.
(3) Rua da Consolação, principal ligação entre a Av. Paulista e o centro da cidade.
(4) Cine Belas Artes, até pouco tempo o principal cinema da cidade em exibição de filmes de arte e alternativos
(5) Sujinho, botecão que começou no final dos anos 70 realmente com uma grande clientela e higiene no mínimo questionável, hoje é um misto de boteco e restaurante e muito bem frequentado
(6) Praça Roosevelt, local que abrigou diversos cineclubes durante os anos 80, tem uma das mais tradicionais igrejas da cidade e há poucos anos é um ponto de encontro de skatistas
(7) Rua Augusta, (mais especificamente o “baixo Augusta”) local da vida noturna, onde a fauna é mais eclética tanto em gosto musical quanto em aparência, todos convivendo bem
(8) MASP – Museu de Arte de São Paulo, um dos acervos mais ricos do país, e a construção com maior vão livre do país, projetado por Lina Bo Bardi
(9) Marcos Feliciano, deputado federal pelo PSC, pastor que se tornou notório por declarações racistas, sexistas e homofóbicas além do “comércio da fé”.