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terça-feira, 30 de abril de 2013

A RUIVA


A RUIVA

Era mais uma noite como as outras voltando do trabalho. O Metrô já não tão cheio, o rush já tinha passado. Quando adentrei o vagão, me ajeitei onde pudesse não atrapalhar o movimento interno e ler meu livro tranquilamente.

Passadas quatro estações das oito que eu tinha a percorrer, alguns passageiros já haviam descido fui então arrumar um lugar mais cômodo. Quando duas garotas passaram rapidamente por mim para descer na estação seguinte, me virei para a direita, e lá estava ela. Uma imagem feminina tão bem delineada que para os mais antigos teria saído de uma prancheta de Milo Manara, ou para os que em menos de 30, de uma tela de um software gráfico sofisticado qualquer.  Ela realmente me lembrava uma personagem de desenho animado que não conseguia me lembrar, e quase duas horas depois me veio à mente... Era a forma humanizada de Jéssica Rabbit, sem os exageros do desenho animado das telas, mas com certeza tinha belas e harmoniosas curvas.

Sentada, compenetrada ligeiramente cabisbaixa seguia o trajeto lendo seu livro, sem sequer notar o movimento à sua volta. Ruiva! Sem dúvida uma mulher rara, afinal as ruivas verdadeiras são apenas 2% da população mundial. Um coque simples e elegante, alguns fios soltos que davam o ar sensual ao rosto delicado, uma mecha ligeiramente descolorida, mas ainda ruiva, dava um ar maduro ao rosto que revelava não mais que 36 ou 37 anos, os lábios carnudos tal qual os de Jessica, com batom vermelho que os faziam mais evidentes ainda. Que conjunto!

Uma blusa vermelha com decote em V que não estava colada ao corpo, mas era justa o necessário pra deixar bem marcadas as formas dos seios volumosos, apenas um toque de ousadia. Por cima, o sobretudo grafite de gola alta, que lembrava uma capa de chuva de filme dos anos 40, elegantemente suavizava os quadris largos. As meias pretas, finas o suficiente para revelar a pele clara e grossa o suficiente para não parecer vulgar, eram arrematadas pelas botas pretas de couro opacas de salto fino.

O golpe de misericórdia veio quando ao notar estar sendo observada levantou o rosto me paralisando com aqueles olhos verdes que quase saltavam das orbitas ao mesmo tempo em que mostravam certo encabulamento; baixou o olhar, pareceu apenas ler até concluir a página, em seguida se levantou me fulminando olhos nos olhos.

Como quase nada é perfeito, ao passar por mim, solenemente pisou, na verdade quase tropeçando em meu pé, sem se dignar a pedir desculpas. Ou queria realmente marcar sua presença chamando minha atenção ou era mal educada mesmo. Muitos machos de plantão ao ler acharão preciosismo ou frescura minha, mas apesar de adorar ousadias femininas, transgressão de convenções sociais, autenticidade, senso prático, objetividade e outros que tais, dou valor a essas pequenas lições de mãe, “desculpe, por favor, com licença”.

 A ruiva se foi deixando apenas a lembrança da bela imagem que faz a alegria do imaginário masculino! Desceu uma estação antes da minha, melhor assim! Quem sabe tenha evitado incluir mais uma na estatística das mulheres exuberantes e fúteis...?!

Ruivas, loiras, morenas ou negras, não importa. Que sejam interessantes, inteligentes, bem humoradas, sarcásticas, debochadas... e femininas!



segunda-feira, 1 de abril de 2013

Presente!


Presente!

Com o passar do tempo a vida vai nos dando presentes, alguns desejados outros não, todos com certeza merecidos.  Muitos deles são pessoas especiais. Pessoas que podem não estar mais presentes, mas são sempre presentes. Pai, mãe, irmãos, namorados, amigos, maridos, esposas, amantes, todos deixam um pouco de si em nós.  Uma mistura de sua essência, sua experiência, sua sabedoria, seus valores, sua energia e até sensoriais como seu gosto e cheiro! Pessoas que passam em nossas vidas para aprendermos a ser melhores, aprendendo pelo exemplo a seguir ou pelos erros a evitar; muito mais que nos agradar e cuidar entram em nosso caminho para nos lapidar, tirar o melhor de nós, mesmo que seja um processo doloroso e geralmente o é. Mães nesse sentido são uma categoria especial de pessoas. São assim, nos amam profundamente e por isso mesmo querem que sejamos sempre melhores, para sentir sua missão cumprida e principalmente para que estejamos preparados para o mundo, sejamos capazes de caminhar com nossas próprias pernas.   Nem sempre o que nos fazem ou dizem é o melhor que se tem a ouvir e é isso que constitui a riqueza dessa lapidação, e em alguns casos há um ingrediente a mais, paradoxal até, para que a maturação dos filhos se conclua elas se fazem ausentes, saem de cena para que tudo o que foi ensinado seja realmente colocado em prática concluindo sua missão, e compreender isso só faz que esse amor que temos por elas seja ainda mais sólido e envolvente. Difícil compreender, afinal é dor; mas dela também se tira aprendizado. Importante é saber e ter a plena consciência que nós também somos e seremos presentes na vida de outras pessoas e cabe a nós nesses vários papeis, de filhos, irmãos, pais, mães, companheiros de vida, amigos fazer o bem, orientar, ajudar, compartilhar, sermos leais e acima de tudo amar! Sejamos os presentes que gostaríamos de receber!


quarta-feira, 13 de março de 2013

Retrato de um ato cívico de repúdio...


Retrato de um ato cívico de repúdio...

E lá estava eu novamente, chegando com disposição, afinal uma figura nefasta, preconceituosa e racista à frente de uma comissão de direitos humanos e minorias é no mínimo surreal. Passos firmes como nos tempos de juventude, a experiência, contudo me fez ter um pé atrás quando vi a pequena aglomeração no local combinado, não mais que 200 pessoas. Perda de tempo pensei, os atos cívicos perderam a força, viramos ativistas de poltrona. E como já estava lá, mesmo minha verve cidadã passando por alguns períodos de dormência não baixa a guarda, resolvi me juntar; já éramos a essa altura umas 500 pessoas, o Laerte(1) parou ao meu lado, trocamos algumas palavras e fomos interrompidos por uma repórter da rádio Itatiaia. O parco grupo resolveu passar ao asfalto do cruzamento da Paulista(2) com a Consolação(3), Laerte convocado pelos manifestantes a ir à frente, começamos a cantar e gritar palavras de ordem. Já tomávamos o começo da Consolação, em frente ao finado Cine Belas Artes(4), pessoas começavam a descer dos ônibus encorpando rapidamente o grupo, enquanto avançávamos descendo a consolação o final da passeata continuava na Paulista, tal era o numero de pessoas que ia se agregando. Retornamos em frente ao Sujinho(5) pelo sentido contrário retornando à Paulista, já tomávamos os dois lados da Consolação, a essa altura já passávamos de 2000 pessoas, homens, mulheres, homos e heteros, famosos, anônimos, negros, brancos, enfim... gente.  Voltamos a descer a Consolação em direção à Praça Roosevelt(6), dava cada vez mais orgulho olhar para trás e ver bandeiras, cartazes e a rua tomada por gente, muita gente, paramos em frente a um cortiço, um rapaz e duas crianças remelentas sentadas à porta, sem entender bem, mas incentivando e sorrindo, e do alto de uma das janelas, a cena mais significativa do dia; ao entoarmos o hino nacional, uma senhora negra de uns 80 anos aproximadamente sai de uma das janelas do cortiço e cantando rege o nosso coro, feliz e sorridente foi aplaudida. Por rádio entre vários pontos da passeata já se estimava em torno de 15mil participantes. Seguimos com mais vigor e mais animados ao não ver mais asfalto, mas simplesmente gente, pessoalmente acredito que éramos menos, ninguém saberá ao certo e no fundo não importa!  Na Praça Roosevelt vários oradores representando entidades ou simplesmente suas próprias idéias e convicções. Os líderes do agito, no geral bem mais jovens que eu, como seria normal não resistiram ao um megafone na mão e precisaram dos seus 5 minutos de fama, faz parte do movimento, faz parte da idade, já vi isso ocorrer outras vezes, o que não invalida de forma alguma o movimento. O momento “púlpito” foi vencido pelo clamor popular de voltar à rua. Naquele momento se juntavam a nós os manifestantes anti-Renan Calheiros, seguimos pela Rua Augusta(7) sem sentir a subida, realmente sentindo o apoio público, fomos aplaudidos várias vezes... flagrei por um momento até um dos policiais que faziam o cordão de isolamento gritando palavras de ordem timidamente conosco, chegávamos à Av. Paulista, mesmo interrompendo o trânsito das duas pistas por um bom tempo o apoio era incontestável, buzinas, aplausos, sorrisos, alguns saíam de seus carros para dar apoio, em frente ao MASP(8) ocupamos as duas pistas e o vão livre, agradecimentos depoimentos comoventes e o melhor de todos os cartazes em minha opinião no meio da multidão “Odeio passeatas, estou aqui por dever cívico!”, finalizamos cantando mais uma vez o hino nacional e aplaudindo a nós mesmos, merecidamente, afinal mesmo com atos relativamente pequenos o civismo e a manifestação popular estão vivos. Fora Marcos Feliciano(9)!!!!

(1) Cartunista, que nos últimos tempos adquiriu notoriedade além do seu trabalho também por se vestir de mulher (crossdresser)
(2) Avenida Paulista, maior centro financeiro do país, onde também estão escritórios de várias multinacionais e alguns consulados.
(3) Rua da Consolação, principal ligação entre a Av. Paulista e o centro da cidade.
(4) Cine Belas Artes, até pouco tempo o principal cinema da cidade em exibição de filmes de arte e alternativos
(5) Sujinho, botecão que começou no final dos anos 70 realmente com uma grande clientela e higiene no mínimo questionável, hoje é um misto de boteco e restaurante e muito bem frequentado
(6) Praça Roosevelt, local que abrigou diversos cineclubes durante os anos 80, tem uma das mais tradicionais igrejas da cidade e há poucos anos é um ponto de encontro de skatistas
(7) Rua Augusta, (mais especificamente o “baixo Augusta”) local da vida noturna, onde a fauna é mais eclética tanto em gosto musical quanto em aparência, todos convivendo bem
(8) MASP – Museu de Arte de São Paulo, um dos acervos mais ricos do país, e a construção com maior vão livre do país, projetado por Lina Bo Bardi
(9) Marcos Feliciano, deputado federal pelo PSC, pastor que se tornou notório por declarações racistas, sexistas e homofóbicas além do “comércio da fé”.



quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O mundo é feminino


O mundo é feminino

O mundo com certeza é, e pouco a pouco está se tornando cada vez mais feminino, não no sentido da sexualidade, mas da ótica feminina. As mulheres conseguem ter seriedade ao cuidar de suas responsabilidades e ao mesmo tempo ter uma leveza, que além de deixar melhor o fluxo das energias da própria atividade também tem uma melhor fluidez interna também, preservando na medida do possível a sua harmonia. Os homens tradicionalmente são mais herméticos, se permitem menos mudanças, menos liberalidades, e quando o fazem frequentemente extrapolam, daí os excessos da bebida, das discussões, da violência, da truculência social e claro no autoritarismo no trabalho ou ainda na ruptura das relações de respeito, onde tal qual a maioria dos machos, simbolicamente também precisam fazer seu "xixizinho" nos cantos pra marcar seu espaço. 

O homem com o tempo mudou muito pouco na sua relação com o mundo, continua como seus ancestrais das cavernas a determinar seu poder pelo território, somos de uma forma geral territoriais enquanto as mulheres são predominantemente sociais. Seu campo de domínio está no conhecimento, nas relações, e não na delimitação de espaço seja em que sentido for. Salvo raras exceções históricas, as sociedades e civilizações sempre foram patriarcais, sendo que o domínio se dava não pela conciliação de forças ou capacidades, mas pela imposição masculina através da supremacia física e pretensa superioridade nas demais áreas por conta disso. Algumas sociedades chegaram a usar o pretexto da determinação divina para o controle masculino. Durante todo esse tempo, praticamente até um século atrás isso pouco mudou, e as mulheres usaram esse tempo todo como coadjuvantes históricas, para além de suas características já favoráveis, também se melhorarem, incubarem uma forma de ser mais preparadas para mudanças, para lidar com diversas variáveis com o ritmo frenético que as coisas vem tomando. Agora já com o melhor equilíbrio na participação social e econômica elas realmente podem mostrar tudo o que incubaram ao longo desses séculos, enquanto os homens exceto um seleto grupo, mal conseguem lidar com a nova liberdade sexual delas. Nada disso é uma exaltação às mulheres ou à supremacia que vejo ocuparão em diversos campos sociais, mas uma constatação, o ideal é sempre o equilíbrio sem supremacia de um gênero ou outro, portanto nós homens temos um campo a recuperar, não no sentido de disputar alguma coisa, mas no sentido participativo e colaborativo que é o verdadeiro caminho da evolução da humanidade e das relações entre seus membros. De qualquer forma, um brinde a elas, que fora tudo o que são e conquistaram, são sem dúvida o encanto de nossas vidas!




terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Rituais pra que?


Rituais pra que?

As civilizações tem grande parte da sua historia e de seus hábitos revelados pelos rituais que tinham, fossem religiosos, sociais, passagem de poder, de alimentação, colheita, integração e respeito à natureza, muitos deles permeando vários setores da vida. Curiosamente somente essa mesma historia foi e é capaz de produzir e explicar em certa medida os rituais, os "vivos" e os pouco praticados, quase esquecidos. Os rituais, ou pelo menos grande parte deles, existem grosso modo para dar relevância ou em alguns casos até justificativa divina para certos fatos, dão a esses fatos uma escala de valores, um momento da vida dos envolvidos com cores mais vivas, trazem em si um marco, fazendo-nos compreender a posteriori quais eram os valores e as relações sociais de uma determinada civilização ou nação. Vejo hoje que em algumas culturas os rituais praticamente são a própria cultura, a perda de alguns rituais de alguma forma também representa um esmaecimento da existência dessa mesma cultura, vemos isso notadamente entre as novas gerações de japoneses, que não dão valor ou não veem sentido em muitos rituais de sua terra natal, preferindo se ocidentalizar, em algumas localidades se comemora até o Natal como se fossem cristãos.
Os rituais de uma forma ampla dão identidade a um povo, pois dizem muito dos valores e forma de ver a vida, o mundo e a si mesmos, como indivíduos e como nação. Na minha historia pessoal sempre fui muito arredio a rituais, sempre vi como uma forma de controle e padronização social, de a sociedade nos encaixar num padrão, nos classificar; mas confesso que como ser social, que precisa dos outros pra viver, sinto falta dos rituais pra me sentir um ingrediente desse caldeirão chamado sociedade!


terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Como termina?


Como termina?

Existe um estereótipo em parte verdadeiro, de que nós homens não gostamos de terminar relações, vamos empurrando com a barriga até que a mulher não suporte mais e resolva terminar. Sendo assim, para realmente falar com conhecimento de causa, e usando a mim mesmo como objeto de análise, resolvi fazer um retrospecto da minha vida afetiva para ver minha situação frente a esse estereótipo e para minha surpresa fui eu que pus fim a maior parte dos meus relacionamentos, pra ser mais exato 75% deles, porém com uma ressalva, as relações principais seja pela intensidade, seja pelo tempo que duraram, não fui eu quem pos fim.  Isso me levou a algumas reflexões, será que nestes casos eu me encaixei nesse modelito estereotipado ou realmente via coisas que minhas companheiras não viam, ou o contrário não via o que elas viam? Difícil saber afinal as óticas masculina e feminina sobre diversas coisas são diferentes. Outra questão é o que de fato faz homens e mulheres entrarem, permanecerem e saírem de uma relação? Será que dá pra definir? Será que cada um de nós, homens ou mulheres conseguimos detectar isso? Ou ainda, será que queremos saber?  Eu sinceramente não sei se quero racionalizar minhas relações a esse ponto e acredito que esse comportamento mais característico masculino seja apenas a ponta do iceberg, provavelmente as mulheres também devem ter seus artifícios para prorrogar alguma relação desgastada ou exaurida.  Há uma palavra que permeia essa convivência o tempo todo, EXPECTATIVA. Nos últimos tempos essa palavra tem feito parte de muitas das minhas conversas, relativas a mim ou não! Na verdade acredito que vivemos o tempo da isenção, todos querem se isentar de tudo, de responsabilidade, de compromisso, de transtornos, e assim acabam se isentando de compartilhar, beijar, carinhar, ouvir, ser ouvido e até se isentarem de amar, mas tudo tem seu preço, melhor dizendo toda escolha tem seu preço, aí eu volto a uma coisa que vivo debatendo em diversas rodas, como vamos aprender ou evoluir se sempre queremos apenas o “mar de rosas”? Com toda essa  isenção inclusive de amor e paixão com certeza se sofre menos, mas cá entre nós, que tédio! Vamos pensar se não estamos idealizando demais ou infantilizando nossas relações... 




quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

CIÚME


CIÚME

Pra quem me conhece, sabe que eu sempre achei ciúme uma coisa sem sentido, ciúme a meu ver e de muitas pessoas não é amor é sentimento de posse. Não que eu nunca tenha sentido, afinal sou humano e falível como qualquer um.  Ocorre que refletindo sobre a falibilidade do ser humano descobri que o ciúme tem uma função específica. Penso que o ciúme vem de certo grau de insegurança, e a segurança total e absoluta gera negligencia nos cuidados e atenção dados ao outro; portanto mesmo sendo causa de tensão e desentendimentos paradoxalmente a função é a preservação da relação. As relações humanas de forma geral são muito complexas, transmitindo mais informações nas entrelinhas e nos códigos não verbais do que na linguagem e no que é dito, as relações homem-mulher tendem a ser mais complexas ainda, visto que o timing e a organização de raciocínio funcionam de forma diferente, a passionalidade então não tem nenhum sentido lógico, pelo menos numa primeira análise. Porém mesmo não vendo sentido no ciúme exacerbado, admito que a sensação de alguém sentir aquele ciuminho da gente, declarado, ou de olhares enviesados ou somente suaves mordidas no canto dos lábios é bem gostosa.